terça-feira, 21 de agosto de 2012

Quem se importa?

Quem se importa?

Hoje o dia teve um final triste. Voltava pra casa, horário de pico, ou seja: ônibus que demora e passa lotado, trânsito e barulho. Barulho demais pra minha dor de cabeça e tontura, provavelmente conseqüência da minha má alimentação durante o dia. Por algum milagre, o ônibus não estava tão cheio e eu pude me sentar. Nem me esforcei para começar a dormir, estava realmente passando mal.

E então ele entrou. Pela porta de trás, obviamente, porque, a princípio eu nem havia notado sua presença (não estava notando nada ao meu redor). O ônibus parou em um semáforo e eu acordei da minha semi-inconsciência sentindo um cheiro insuportável. Um cheiro horrível, muito forte. Olhei para os lados, talvez houvesse algum caminhão de lixo parado perto e também prendi a respiração. Mas quando o ônibus andou, o cheiro não passou. Então olhei pra trás, lá estava ele. De pé. O cheiro vinha de um homem vestido com trapos, calçado com chinelos muito gastos e visivelmente bêbado.

Não exagero ao falar que o cheiro era forte. Era cheiro de carne podre. E olhando para o homem percebia-se que, literalmente, ele estava apodrecendo. Muitas pessoas desceram do ônibus no ponto seguinte. Algumas fizeram piadas. Outras disfarçavam e tapavam o nariz. A maioria tapava descaradamente (e o homem sequer se dava conta disso). Mas todas estavam incomodadas. Se afastaram, sobrando uma poltrona para o homem. Ele se sentou, ficou olhando pela janela e falando consigo mesmo. Palavras incompreensíveis.

Confesso, o cheiro também me incomodava muito. Já me sentia mal e a situação só piorava. Mas não consegui tapar o nariz. Não consegui rir das piadas. Estava bem perto da janela, o que me fez não desmaiar. E só conseguia pensar em uma coisa: o cheiro ruim, forte, podre, o homem levaria embora consigo, quando descesse do ônibus. As vidas das pessoas voltariam ao normal, sem inconvenientes como esse. Mas a vida desse homem não. Ele provavelmente continuará apodrecendo. Processo de decomposição em vida. E será, será mesmo que alguém se importará com ele? Sim, me entristeci pensando que ele continuará sendo uma piada, um cheiro ruim, um incômodo. "A vida é muito cruel", disse um passageiro se referindo à situação do homem.

A vida é muito cruel.

(extraído em 2008 do Blog Não Analisa Não)

Meu comentário no Blog dela
Sarah, eu li e o texto me lembrou a abordagem do "Quem se importa?"

Posso visualizar a cena e dizer que até no meio dos cristãos ele seria caçoado e repelido. Isso apenas evidencia o quanto o Ministério "Evangélico" tem sido deficiente e pouco acessível. Há uma lacuna que precisa ser preenchida, mas que todos temem por não existir o "glamour" do reconhecimento. Oro e luto para que isso mude a começar de mim.

Is. 35:8c – “Os caminhantes, até mesmo os loucos, nele não errarão.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário